Exercício de libertação da câmara nas ruas, como o próprio título sugere, a primeira longa-metragem de Shuji Terayama intersecciona as deambulações frustradas do seu jovem protagonista com o zeitgeist do Japão dos anos da contra-cultura. Manifestações subversivas, números musicais de intervenção, momentos ácidos de candid camera contribuem para o espírito de evasão geral, presente já na peça de teatro e no folhetim agitador com o mesmo nome e do mesmo autor. Segundo Terayama, é preciso abandonar a casa e a família, estruturas máximas de um conservadorismo bafiento, transformando a cidade num livro revolucionário onde fosse possível escrever nas suas margens infinitas. Também o filme assume esse registo errante, desvairado, contrariando radicalmente a concentração centrípeta de O ENFORCAMENTO e "Duplo Suicídio em Amijima", até voltar a encontrá-la no momento em que a ficção se revela insustentável